Cachimbos e charutos são companheiros. Eu os defendo, estão em todo lugar. Existencialistas, pintores, libertários, téologos, velhos, umbandistas, burgueses. Não precisa se deparar com algum Mueller sentado na varanda fazendo fumaça pra conhecer este mistério. Eu não entendo nada de literatura, nem de pintura, muito menos de burgueses, mas sei que há esta corrente. Não consigo negar a magia que há no preto velho sentado ao lado de um atabaque. Assim como não consigo negar a magia que há naquele quadro de Van Gogh. Aliás, daquela cadeira quantos personagens poderiam percorrer, Bultmann leitor de Heidegger, Pai Alcir devoto de Assis, apresentador de TV, comunista assassinado, professor frustado. Enfim, tanto há e tudo pode se fundir numa fumaça, por que não?

Ele esteve ao encontro da mais antiga mãe de santo da cidade. Ela, senhora de idade, trocou algumas palavras com o jovem rapaz. Este, ávido pelo conhecimento não hesitou, sentou ao seu lado, falou de sua vida, de seu modo de ver o mundo. Ela falou-lhe de sua fé, contou sábias histórias, gente que passou, que ela ajudou e amou. Depois de um bom papo a dois, já eram íntimos. Ele, aspirante a inspirador de sonhos, ela, feiticera de mágicas e danças. Foram para o ato mais sincero e puro de devoção. Ela fez sua petição mágica e ele orou o Pai Nosso. Num plano espiritual eles dialogaram, cada um em sua condição religiosa existencial, trocaram desejos bons a seu Deus, e se despediram em paz. Ambos, amantes das fumaças.


6 comentários:

Mylle Li disse...

muito lindo!

Lorena disse...

"Pai Alcir devoto de Assis"
Fiquei me pergutnando quem seria... =)

Lindo texto. E linda reflexão de comunhão também, até na fumaça.

E eu não esqueço o dia dos pais, estou lembrando, vou preparar alguma coisa pro velho. =P

beijos!

Éverton Vidal Azevedo disse...

Nossa Neres! Que textao meu brother. Quanta verdade nesse texto.

E por falar nisso, nao é que deram fim no meu cachimbo?

Amigao disse...

Gostei muito deste texto, pois tambem sempre tive um certo fascinio por charutos e cachimbos.
Mas nunca dialogaria com uma feiticeira não. Morro de medo.

abração do amigão,

Amigão, você escreve bem pra cacete.

Letícia disse...

Leandro,

Eu li esse texto no seu perfil do orkut e tive a impressão de já ter lido. Mas gostei de todo jeito. Com ou sem fumaça, é história boa.

E estou ouvindo Just in time. Fico conotativa com essas músicas tão fortes. :)

Bjs mais.

Dulce Miller disse...

Amantes das fumaças...adoro ler coisas diferentes e lindas assim!

Beijão