Caetano Veloso
Onde queres revólver, sou coqueiro;
Onde queres dinheiro, sou paixão!
Onde queres descanso, sou desejo;
E onde sou só desejo, queres não!
E onde não queres nada, nada falta;
E onde voas bem alto, eu sou o chão;
E onde pisas no chão,
Minha alma salta: e ganha liberdade na amplidão...
Onde queres família, sou maluco;
E onde queres romântico, burguês!
Onde queres leblon, sou pernambuco;
E onde queres eunuco, garanhão!
E onde queres o sim e o não, talvez;
Onde vês, eu não vislumbro razão!
Onde queres o lobo, eu sou o irmão;
E onde queres cowboy, eu sou chinês!
Ah, bruta flor do querer...
Ah, bruta flor, bruta flor!
Onde queres o ato, eu sou o espírito;
E onde queres ternura, eu sou tesão!
Onde queres o livre, decassílabo;
E onde buscas o anjo, eu sou mulher!
Onde queres prazer, sou o que dói;
E onde queres tortura, mansidão!
Onde queres o lar, revolução;
E onde queres bandido, eu sou o herói!
Eu queria querer-te amar o amor,
Construírmos dulcíssima prisão;
E encontrar a mais justa adequação:
Tudo métrica e rima e nunca dor!
Mas a vida é real e é de viés,
E vê só que cilada o amor me armou:
Eu te quero e não me queres como sou;
Não te quero e não me queres como és...
Ah, bruta flor do querer...
Ah, bruta flor, bruta flor!
Onde queres comício, flipper vídeo;
E onde queres romance, rock'n roll!
Onde queres a lua, eu sou o sol;
Onde a pura-natura, o inseticídeo!
E onde queres mistério, eu sou a luz;
Onde queres um canto, o mundo inteiro!
Onde queres quaresma, fevereiro;
E onde queres coqueiro, eu sou obus!
O quereres e o estares sempre a fim,
Do que em mim é em ti tão desigual...
Faz-me querer-te bem;
Querer-te mal:
Bem a ti, mal ao quereres assim:
Infinitivamente impessoal;
E eu querendo querer-te sem ter fim!
E querendo-te,
Aprender o total...
Do querer que há;
E do que não há em mim!
Onde queres dinheiro, sou paixão!
Onde queres descanso, sou desejo;
E onde sou só desejo, queres não!
E onde não queres nada, nada falta;
E onde voas bem alto, eu sou o chão;
E onde pisas no chão,
Minha alma salta: e ganha liberdade na amplidão...
Onde queres família, sou maluco;
E onde queres romântico, burguês!
Onde queres leblon, sou pernambuco;
E onde queres eunuco, garanhão!
E onde queres o sim e o não, talvez;
Onde vês, eu não vislumbro razão!
Onde queres o lobo, eu sou o irmão;
E onde queres cowboy, eu sou chinês!
Ah, bruta flor do querer...
Ah, bruta flor, bruta flor!
Onde queres o ato, eu sou o espírito;
E onde queres ternura, eu sou tesão!
Onde queres o livre, decassílabo;
E onde buscas o anjo, eu sou mulher!
Onde queres prazer, sou o que dói;
E onde queres tortura, mansidão!
Onde queres o lar, revolução;
E onde queres bandido, eu sou o herói!
Eu queria querer-te amar o amor,
Construírmos dulcíssima prisão;
E encontrar a mais justa adequação:
Tudo métrica e rima e nunca dor!
Mas a vida é real e é de viés,
E vê só que cilada o amor me armou:
Eu te quero e não me queres como sou;
Não te quero e não me queres como és...
Ah, bruta flor do querer...
Ah, bruta flor, bruta flor!
Onde queres comício, flipper vídeo;
E onde queres romance, rock'n roll!
Onde queres a lua, eu sou o sol;
Onde a pura-natura, o inseticídeo!
E onde queres mistério, eu sou a luz;
Onde queres um canto, o mundo inteiro!
Onde queres quaresma, fevereiro;
E onde queres coqueiro, eu sou obus!
O quereres e o estares sempre a fim,
Do que em mim é em ti tão desigual...
Faz-me querer-te bem;
Querer-te mal:
Bem a ti, mal ao quereres assim:
Infinitivamente impessoal;
E eu querendo querer-te sem ter fim!
E querendo-te,
Aprender o total...
Do querer que há;
E do que não há em mim!
Essa música-poesia me veio como um espelho. No momento, desconstruo-me. Portanto, se estiver assim, tão estranho, tão só, seco e calado, tão dor é porque a vida é real e de viés, fui pego na surpresa, ainda estou sem reação.
PS: conscientizei-me de que ainda há uma Travessia a se cumprir: como elaborar uma práxis que se enquadre na luta contra a aberração que se estabeleceu como meta em muitos cotidianos, a miséria na fartura?
PS: conscientizei-me de que ainda há uma Travessia a se cumprir: como elaborar uma práxis que se enquadre na luta contra a aberração que se estabeleceu como meta em muitos cotidianos, a miséria na fartura?
PS²: Não, não fui coerente.
10 comentários:
Realmente, não foi coerente!
mas pq ser?
Abraços!
Não precisa ser coerente. Coerente é só na hora de contruir-se; quando for desconstruir-se pode ser incoerente a vontade. E também estranho, e confuso, e dor, e sonhos, e silêncio... É nosso direito, poxa! =)
Agora vou ali assistir o Chico, logo aqui embaixo... Minha irmã é fã do Chico.
Leandro,
bela escolha, meu camarada.
Caetanos tem coisas boas demais e sempre um remédio pra alma.
Abraços de sempre.
Germano
Pensei que vc nao ia mais postar coisas do Caetano rs...
Mas entao, vcs andam roubando meus comentários (ainda a palavra nao me veio a boca e vcs ja a conhecem =P), sim, eu ia dizer algo assim:
Não precisa ser coerente. Coerente é só na hora de contruir-se; quando for desconstruir-se pode ser incoerente a vontade
E digo mais. Há incoerência até na construçao, embora nao seja o ideal, porque a vida é paradoxo e contradiçao.
Ps: Vc roubou meu comentário (Rm 7) no blog da Lorena rsrs. Inté!
rs. Dei uma trégua pro Caetano músico. :)
Estou escrevendo enquanto o vídeo, com um errinho do Chico Buarque, deixa a noite mais coerente. Coerência é algo que busco. Quando saio de casa e quando escrevo. Sofro de uma "incoerência insistente" e de "exagero". Acho que por isso falo pouco. E vim te ler... coisa que não faço há dias. Estou lá dividindo com vc e outros escritores aquele espaço que vc criou. Sim, somos escritores. Do contrário, o que seríamos?
Essa música é bruta mesmo. Teve uma época em que eu fugia do Caetano. Eu sentia raiva do talento dele. Uma frase e o cara faz a Maior Arte e quem toca violão entende. Dá raiva ver talento assim. Hoje amadureci, eu acho. E vou me adequando ao contrário da vida.
Bjs...
Letícia
PS: E o Chico fala: "Por que insisto nessa profissão?"
Não parece familiar?
ah, eu compreendi sua incoerência...
Só to esperando os resultados da desconstrução...
;]
Não conhecia a música, mas realmente é um poema e dos mais bonitos que já li...talvez por também me encontrar nele e quem sabe, também me encontrar em fase de desconstrução...
Que post dificil de comentar amigão.
Só me resta dizer que é muito inspirador.
Um abração
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